Meu Processo de Transição de Gênero (FtM) em Teresina - PI
Olá,
galere :D Bom, não sei se
vocês sabem, mas nasci no gênero feminino e atualmente, plenos 25 anos, resolvi
não adiar mais a minha transição pro gênero que me identifico, o masculino.
Bom, nunca me dei bem com atos tipicamente femininos, mas fazia de tudo para me
encaixar porque tinha uma irmã mais velha em casa e a tendência é que quem é
mais novo, copie o mais velho, né... Por exemplo, eu não via necessidade de ir
pra igreja maquiado, mas minha irmã fazia, então eu acreditava que aquilo era
meio que regra e o fazia também. Eu parecia a Willam no começo da carreira drag
dela (vide RuPaul’s Drag Race),
vivia com o cabelo enorme amarrado porque
Teresina é terrivelmente quente e ele é volumoso, um volumoso estranho, não é
black power, nem crespo, só cacheado estranho.
A Willam rsrsrsrsr |
Começo dos 13 anos, o primeiro incômodo
físico: peitxolas (seios), ainda bem que eram bem abaixo da média da galera da
minha turma lá na escola; com 14, monstruação na casa do meu pai na hora do meu
banho. Já sabia o que era e o que tinha que fazer, mas antes xinguei o universo
inteiro porque poderia acontecer com qualquer um, menos comigo. Era
inadmissível, e ainda hoje é. Acho desnecessário, um castigo, uma punição por
ter falhado como ser humano em alguma vida passada (não estou dizendo que acho
isso das mulheres, isso é o que penso sobre mim e essa situação comigo, super
entendo que mulheres menstruam, mas eu não). A única coisa que isso me traz é
dor no corpo todo, e revolta de tal forma que sinto vontade de destruir tudo ao
meu redor e sair no soco com quem tentar me impedir. Fico cego de ódio, eu me
odeio por 3 dias e tomo chá de hortelã que faz descer um bocado dessa porcaria de
uma vez e acabar logo. No primeiro dia não posso sair de casa porque falto
desmaiar de dor e fraqueza, fora a vergonha que eu sinto. Parece que todo mundo
ta sabendo que eu estou na situação, é um sentimento de ser fake, sempre acho
que todo mundo fica pensando coisas como “alá, nera homem? Tá sangrando que nem
mulher por que? Não era homem?”. O pior é que se isso acontecer num dia de algo
importante na UESPI (onde faço Licenciatura em Educação Física), tenho que ir.
Seminário, provas, apresentação de projetos de aula, sou obrigado a ir, ainda
mais nesse e nos próximos semestres porque meio que boa parte da minha turma
não gosta de fazer trabalhos comigo porque no 1º bloco tive uma dificuldade
horrível nos seminários, um ataque de pânico e não atendi as expectativas da
ansiedade de alguns integrantes em entregar resultados no mesmo dia que foi
passado o trabalho. Manchei minha imagem para as pessoas que eu vou ter que
ficar junto pelos próximos anos. Então que assim seja, porque eu não posso me dar
ao luxo de desistir do curso e porque essa é a área que eu quero trabalhar.
Vamos ao que importa: vou ficar sempre
atualizando aqui o meu processo de transição na cidade de Teresina – PI.
Lembrando que o encaminhamento partiu de uma cidade próxima, Lagoa do Piauí,
onde moro com minha mãe atualmente e que não faço ideia de como vai ser contar
isso, mesmo que no fundo ela já saiba. Tenho quase certeza de que sabe porque
ela já viu meu nome social ~ JOSYEL ~ em algum lugar nas redes sociais porque
dei uma vacilada; pelas roupas e pelo fato de que diferente das minhas irmãs, não
gosto de me trocar no quarto com ninguém lá dentro, inclusive com ela, nem fico
onde tem gente se trocando por questão de respeito (você não vê um cara de 25
anos olhando as irmãs ou a mãe se vestindo/ tomando banho, certo?).
O PROCESSO:
· Fui
no posto de saúde da Lagoa do Piauí para pedir exames referentes a minha anemia
e avisei à Dra. Janaina que queria começar minha transição também, mesmo com
minha mãe sendo protestante e provavelmente me expulsando de casa e da vida
dela de novo, e ela disse “Não tem nadinha, a vida é sua, não dela. Cuide de
você que o resto vai resolvendo” (ri de nervoso). Ela me encaminhou para
endocrinologista, o que por mais inacreditável que pareça, foi no começo do mês
seguinte. Tudo pelo SUS, ta? A Dra. Tinha escrito ideologia de gênero. Eu perguntei para ela se não seria identidade de gênero, e ela corrigiu.
Cuidado viu? Pode corrigir, as vezes a pessoa só não tem informação por mais
“estudada” que seja.
· Dia
02/04: Fui para minha consulta com a endocrinologista no CISLA – Centro
Integrado de Saúde Lineu Araújo. Os portões abrem às 7h e você tem que pegar
uma senha com um cara bem na entrada e ir para a ala A que é para ser chamado
no monitor e ir até o balcão antes do atendimento, mas se sua médica for a Dra.
Ana Carla Lôbo, ela vai chamar antes de você ir no balcão. Só vá. Ela é muito
apressada, mas espera você responder. A gente sabe que coisas nas carreiras não
são bem feitas né, mas vida que segue. Ela faz perguntas como, quando você se percebeu trans, se pratica
esportes, profissão, se está tomando remédio, se tem alguma doença, se tem
histórico de diabetes e hipertensão na família. E após, afere sua pressão.
Ela
pede alguns exames:
1.
Hemograma (não precisa marcar nada, só
vá em
jejum na ala C e faça) ~ meu exame dia 11/04
jejum na ala C e faça) ~ meu exame dia 11/04
2. Ultrassonografia transvaginal (marcar com o cara do balcão na ala A mesmo
– escolher Dra. ou Dr.) ~ meu exame 16/04
3. Ultrassonografia mamária bilateral (marcar com o cara do balcão na ala A mesmo
– só tem Dr.) ~ meu exame 11/04
4. Psiquiatra (você escolhe CISLA ou Areolino de Abreu) ~ no meu caso tenho que
ver se tem vaga na cidade que to morando
5. Retorno (só marque quando tiver com todos os resultados dos exames – no balcão
da ala A)
F5.1
Dia 11/04: Hemograma e
ultrassonografia mamária bilateral
HEMOGRAMA: Fui no ônibus da
prefeitura de manhã bem cedo e em jejum pro CISLA (Lineu Araújo). O esquema pro
hemograma:
· Fique
na fila na Ala C (primeira porta á direita). Pergunte quem é o último da fila
(sempre, em toda fila) e fique lá. Em algum momento vai aparecer uma enfermeira
não muito simpática com senhas. O esquema é uma senha normal e uma prioridade.
Cuide porque sempre tem gente que se acha esperta vai se amontoando na porta.
·
Com
a senha, o papel verde que a endocrinologista lhe deu, RG e cartão do SUS em
mãos, preencha o que tiver faltando nos papéis verdes antes de ser chamado seu
número.
· Quando
for chamado, você vai para uma sala para colocar seu exame no sistema de lá. Um
cadastramento... De lá, a mulher que responsável por esse cadastro vai te levar
para a sala ao lado e te deixar em “banho-maria” por 30 minutos (risos) antes
da coleta de sangue. A justificativa que ela me deu é que por causa da
PROLACTINA, você deve estar relaxado. Bom, você não vai poder conversar, nem
mexer no celular, nem nada. Vai virar plantinha, quase.
O que
foi pedido no exame:
- LUTEINIZANTE HORMÔNIO
- FSH
- ESTRADIOL
- TESTOSTERONA TOTAL
- PROLACTINA
- HEMOGRAMA COMPLETO
- GLICOSE
- COLESTEROL TOTAL
- TRIGLICERIDEOS
- HDL
- LDL
- VLDL
- TRANSAMINASE OXALACETICA – TGO - AST
- TRANSAMINASE PIRUVICA – TGP – ALT
- CPK
- CREATININA
- TSH
- T4 LIVRE
P.S.: não faço ideia do que seja boa parte desses nomes, então, google neles.
· Depois
desse “molho” todo, a enfermeira vai coletar generosos ml’s do seu precioso
sangue. No meu caso foram 4 frascos. Achei interessante a seringa nova que ela
vai só encaixando um tubinho após o outro. Não é aquela seringa comum.
· Acabado
sua coleta, vá comer. Vá mesmo e beba água porque o tempo em jejum foi longo
demais e a ultrassonografia é só às 13h. No meu caso, cheguei 6:40, esperei
abrir o hospital e minha vez foi só às 8:50h. Eu já estava mais do que varado
de fome...
·
O
resultado sai em 8 dias e você pode consultar online ou pode ir na sala que fez
o cadastramento antes da coleta e pegar lá. Enfrentando outra humilde fila.
ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA BILATERAL:
ÀS 12h fui até a Ala F e já tinha um
bocado de gente. Cuidado porque são duas filas para dois exames parecidos.
Ultrassonografia e mamografia. Faça a regra básica de sobrevivência: pergunte
quem é o último.
· Próximo
de 13h vão formar 2 filas em dois balcões para o cadastramento no sistema antes
do exame. Lembre-se de preencher os papéis verdes com antecedência.
· Depois
do cadastramento você vai ficar somente com 2 adesivos que terá que levar
quando receber o exame. Saindo dessa fila, você vai entrar numa porta á direita
com a placa “raio - x/ ultrassonografia” e ficar em outra fila até que chamem
seu nome. A porta é a do fundo da sala, próximo aos banheiros. Se você tem mais
de 40 anos, terá que fazer OBRIGATORIAMENTE a mamografia antes desse exame
porque o médico pede para ver a papelada do exame.
· Quando
chegar sua vez: você vai ser direcionado a um lugar para tirar a camisa e
vestir uma bata. Se tiver piercing nos mamilos ou áreas próximas, retire.
· Deite
na caminha lá e a enfermeira vai lhe pedir para colocar as mãos na cabeça
porque uma parte da axila também é examinada.
· O
médico vai lhe perguntar o motivo da consulta, se sente dor e se já fez exame
antes. Vai ser colocado gel nas suas peitxolas e o médico vai passar a
maquininha neles. É o mesmo que uma gestante faz. De boa, e o médico nem toca
neles nem nada, é muito profissional.
· Acabado
o processo que é bem rápido, você se limpa, volta para se trocar e vaza. O
resultado sai em média 10 dias e o lugar de pegar é do outro lado do
quarteirão, indo por fora mesmo. Ainda não sei onde é.
F5.2
DIA 16/04: ULTRASSONOGRAFIA
TRANSVAGINAL
Galere, mais um dia no CISLA. Vamos lá!
·
Manhã
cedo, ala F, no mesmo lugar que foi feito a ultrassonografia mamária, porém, na
porta ao lado da última sala.
· Uma
senhora nada simpática vai preencher seu papel verde e dizer para você esvaziar
a bexiga e voltar para sala.
· Feito
isso, vai vestir aquela maravilhosa bata com a abertura para trás e ficar lá
até que ela lhe chame. É horrível ficar pelado da cintura pra baixo de manhã
cedo num lugar frio com gente estranha, mas é uma vergonha necessária.
· Fui
atendido logo porque enquanto os outros enchiam a bexiga, eu não precisava. Pois
bem, me deitei. Quando a médica Sahmia Vanessa Nunes perguntou o motivo do
exame, ela já estava armada. PUTA QUE
PARIU, É SÉRIO O TAMANHO DISSO???
Minha gente aquele negócio deve ter uns
14cm e ela enfiou sem cerimônia. A conversa dela não me distraiu coisa nenhuma.
Ela ficou furdunçando lá por dentro do lugar que a gente já sabe onde, e
perguntando se já tinha feito esse exame ~ nunca ~ o motivo, se estava tomando
hormônio ou se já tinha tomado ~ não, porque me convenceram a passar pelos
médicos primeiro ~ se a monstruação é normal ~ infelizmente é sim ~ e de
repente: ENGRAÇADO, NÃO TO CONSEGUINDO
VER TEUS OVÁRIOS, TEM CERTEZA QUE NÃO FEZ USO DE HORMÔNIO? ~ minha vontade
de dizer algo massa eu soquei no edi e disse só certeza absoluta ~
·
Ela
tentou ver por cima e disse que eu teria que tomar água e voltar para refazer o
exame e que tinha visto um pequeno cisto ~ que massa, que daora, já estava
ruim, piorou. 2x o exame?! Ovários o que? Achou o que? Ah naum ~
·
4
garrafadas de 500ml e quase 30min depois... voltei para a sala, não precisei
vestir bata, só abrir a calça porque agora o ultrassom era por cima, apenas.
Bom, como a doutora tinha dito antes para mim, tenho dois cistos com nome
estranho que estão mesmo na frente dos ovários e eles tem tamanho não tão
grande, mas o suficiente para cobrir cada ovário e por isso ela não conseguiu
ver por dentro, só por cima com a bexiga terrivelmente cheia. Perguntei o que
era exatamente esse cisto e ela disse que a “minha ginecologista me explicaria
melhor”. Vi de relance a impressão do ultrassom e me deu um nervoso mas agi
naturalmente com minha cara de paisagem de sempre.
·
Acabado
o exame, a senhora nada simpática avisa que o resultado do exame vai estar
disponível na semana seguinte e o lugar é do outro lado do prédio, indo por
fora, do lado da banca de revista.
Pronto.
Já fiz todos os exames pedidos por agora. O que está faltando é a vaga para o
psiquiatra que até hoje (17/04) não consegui. Assim que receber os exames,
postarei sobre os resultados.
OPINIÃO ALEATÓRIA: Qual o problema
desses médicos do Lineu? Por que diabos eles chegam 7h e querem vazar às 8h?
Como eles se consideram bons médicos atendendo nas carreiras e sem esclarecer
nada? Claro que não são todos os médicos, mas é uma maioria. Essa é a verdade
do CISLA, e conversando com minha mãe ela disse que os médicos de lá sempre
foram assim. Os únicos médicos que explicam alguma coisa detalhadamente para o
paciente são os de clinicas particulares. Então, se você pode, faça seus exames
em clinicas particulares porque se consultar e sair com medo de um exame por
falta de explicação, ninguém merece).
E falando
na mãe... Ela não tem tanto estudo e não pesquisa muito sobre nada, então,
antes desse meu processo todo, fiz exames por causa da anemia e ela acredita
que aproveitei para pedir exames de rotina. Entramos numa breve conversa sobre eu
retirar os ovários, e a opinião firme dela é que se nasceu com isso, é porque tem que ficar com eles ai porque eles tem
um propósito. Perguntei se eu era obrigado a parir uma neta para ela (não
me julguem, eu não quero isso, foi só uma pergunta aleatória mesmo) e ela disse
que não, mas que era bom ter alguém que limpasse minha bunda quando eu tivesse
velho gagá ¬¬ Eu respondi que estou estudando para trabalhar e mais na frente
ter uma reserva suficiente para morar em asilo decente e qualquer coisa nesse
meio tempo, se tiver condições financeiras e psicológicas, adoto alguém. Ela
achou ruim mas se calou e eu disse que pronto, assim que der, tiro os cistos e
essas “paradas estranhas” junto porque está aqui só me trazendo dor de cabeça e
no corpo e ocupando espaço. Aguento dores diversas, mas a dor por causa de
monstruação e o fato de passar por essa desgraça é uma coisa que não consigo
aturar de tal forma que a vontade é só de morrer sumir.
Quando
eu estava na 7ª série (hoje é 8º ano) tinha 13 anos. Teve uma aula de sexologia
com a presença de alguns professores e a pedagoga da escola. Foi esclarecedor
até demais e eu ainda não tinha tido a maldita experiência do sangue mensal.
Falaram das mudanças físicas, psicológicas, hormonais e tudo mais e quando falaram
em monstruação, eu meio que entendi que aconteceria com garotas mas que de
alguma forma esse imenso castigo não me atingiria (ou eu acreditava em milagres
ou me achava especial demais para não passar por isso), ignorando totalmente o
fato de ter um corpo biologicamente feminino.
F5.3
Voltei!
Dia 23/05/2019: Fui para minha consulta
de retorno da Dra. Ana Carla, a endocrinologista. Mostrei meus exames e ela
falou que está tudo normal em relação ao meu hemograma, aos hormônios e às
mamas. O que precisa ser cuidado agora são só os dois cistos (teratomas) que
tenho nos ovários. Não vou poder fazer uso de hormônio nenhum enquanto essas
porcarias estiverem aqui, nem muito esforço físico (o que estou fazendo
diariamente, inclusive nos treinos de kendo, sinto dores quando esses troços
parecem que estão se esticando e fica difícil me locomover da forma correta,
mas consigo acompanhar até a metade do treino, pelo menos. E não, não vou parar
com os treinos nem com as práticas que preciso fazer da universidade). Deem uma
googlada sobre teratomas, é algo
muito comum e pouquíssimos são os casos de malignidade (teratocarcinomas).
Basicamente são só células germinativas (embrionárias), que nascem com a gente
e ficam por aqui mesmo até que sumam com o tempo/ com uso de medicamentos ou
sejam removidos cirurgicamente, óbvio. Podem ter cabelos, unhas, dentes,
ossos... Por causa disso tudo, to chamando os meus de “dois filhos de
Francisco” (risos). No meu caso, os cistos estão nesses tamanhos: 5,4 x 3,2cm
(direito) e 6,8 x 5,8cm (esquerdo).
A Dra. me encaminhou para a
ginecologista e um papel para o retorno depois do exame. Fui até a Ala E para
marcar a consulta. É só pegar a senha, esperar e marcar. Não tinha vaga no
Lineu, as opções que me foram dadas foram: marcar
e ficar na espera de vaga no Lineu; marcar para médico no hospital do Satélite e
marcar para médico no hospital do
Mocambinho. Não conheço o Mocambinho, então optei pelo Satélite. Ótimo,
porém, vai ser com um médico. Dia 28/05, já. Espero honestamente que peça
apenas para ver meu exame (o ultrassom) porque eu REALMENTE não to afim de
mostrar minhas partes pra macho nenhum, ainda mais ginecologista que fica lá
olhando a obra toda. CONSTRANGEDOR. Acho que eu já to chegando na fase
do chefão (risos de nervoso).
Sobre o
psiquiatra: só nada. Fui até no Areolino para saber se poderia fazer essa
consulta lá, mas não posso porque já foi feita a solicitação para o Lineu e o
que está faltando é autorização. Basicamente eu estou esperando AUTORIZAÇÃO
para uma pessoa atestar que eu sou transgênero e me encaminhar para uma
psicóloga. Eu preciso de um papel que diga que eu sou eu porque minha palavra,
a minha certeza, não basta. Lembrei dum trecho do livro Thammy da Márcia
Zanelatto:
“Nome é problema. Mijar é problema. Sair é problema. Beijar na balada é
problema. A pessoa que vc beija tem o direito de saber que vc é trans!
Hormonioterapia é problema... Cirurgia é problema. Eu não tenho o direito de
ser eu? Tenho que implorar para ser eu? Pedir licença e autorização para ser
eu?!”
Esse sou eu todo feliz com
vários encaminhamentos depois
da 1ª consulta com a médica endocrinologista
F5.4
Dia 28/05/2019: Consulta com
ginecologista.
Hoje fui para minha consulta no
Hospital do Satélite às 11h. Saí da UESPI 9:30h e cheguei às 10:50h (para terem
uma ideia da distância), até que os ônibus colaboraram hoje e não demoraram.
Bom, o
hospital fica ao lado da biblioteca municipal. Se você for de ônibus, vai
descer logo depois da UPA ou antes do busão descer essa rua da UPA. Não tem
erro. Chegando no hospital, tem uma área ampla com as salas de atendimento e a
galera já amontoada próximo das suas respectivas portas. Vá até o final dessa
área, onde fica duas mulheres em mesas. Mostre sua consulta já marcada e
preenchida que ela vai preencher um papel lá caso seja sua primeira consulta
naquele hospital. Vai lhe dar uma senha e você vai para sua fila aguardar sua
vez.
No meu
caso hoje, o médico olhou meus exames, expliquei que estava fazendo vários por
causa do processo de transição de gênero (processo transmasculinizador), e que
a médica endocrinologista me encaminhou para essa consulta por causa dos
teratomas. Ele me explicou o que são os teratomas, e que esses cistos por serem
de carne, eles não diminuem e tem que ser feito o processo cirúrgico. Ele falou
a mesma coisa que a médica do ultrassom disse, que se fosse o caso, retiraria
os ovários também já que não vão ter a utilidade comum deles (fertilização, gravidez).
Esse comentário foi meio ridículo porque uma pessoa trans pode decidir em
qualquer momento da vida parar a testosterona, engravidar e depois retomar o
processo porque bem, tem útero, ovários, vontade própria e pode estar se
relacionando com pessoa que tem neca (pênis) e espermatozoides. E uma mulher
trans, caso queira, pode muito bem usar meios (barriga de aluguel, namorar
alguém que tenha condições físicas para uma gravidez, por exemplo) e ter um
filho do seu sangue. A ciência evoluiu e está fazendo um ótimo trabalho, a
gente só tem que procurar se atualizar. Voltando ao médico... Ele disse que mesmo
que eu VÁ FAZER A MUDANÇA DE SEXO, é bom que os ovários fiquem por aqui porque
senão eu teria que fazer reposição hormonal e que quando eu tiver fazendo o uso
de testosterona, eles não irão funcionar no processo normal liberando óvulo e
tals. Eu resolvi que vou deixar os benditos aqui e só retirar o que for
necessário. E não cheguei nem perto de sequer mencionar mudança de sexo. Não
pretendo fazer isso, só fazer alguns reparos... Relevem, essa parte.
Sobre os
“filhos de Francisco”: o médico disse que já teve várias pacientes com
teratomas, vivem perfeitamente bem com eles por anos e que não causam dor. Eu falei
das dores que eu sempre senti e que achava que era algo muscular porque sempre
pratiquei esportes e que só depois dessa descoberta é que vi qual era o
problema. Ele disse que não é por causa dos cistos. Eu to putamente confuso porque
não é psicológico, não é loucura minha. É dor mesmo, e piora quando estou no
primeiro dia de sangramento da minha bomba relógio.
O Doutor
me deu 2 papéis: um para marcar outra transvaginal daqui a 6 MESES para saber
se os cistos estão crescendo ou não e só depois de receber o resultado desses
exames, marcar a cirurgia de preferência no Hospital Universitário porque lá é
por vídeo, ou seja, quase sem cicatrizes. Se não tiver como, marcar no Hospital
Getúlio Vargas, mas lá a cirurgia é tipo a cesárea (aquele corte horizontal). Detalhe:
o médico só resolveu me passar essa cirurgia porque eu perguntei 3 vezes se não
teria possibilidade nenhuma de marcar porque a médica endocrinologista disse
que eu só posso fazer o uso de testosterona depois que retirar esses cistos, e mesmo
que eles supostamente não estejam me causando nada eu quero tirar porque são
coisas estranhas, fora do normal no meu corpo. Vou confessar uma coisa: eu já
estava enchendo os olhos de lágrimas, já estava ficando com a respiração
ofegante e vendo todo meu tempo, minha coragem, minha demorada decisão de
transicionar ir por água abaixo. Eu estava quase, quase mesmo pronto para
rasgar todos aqueles exames, cair no choro e sair esmurrando as paredes até ver
o sangue descer das mãos. Eu estava à beira de desistir de todo meu processo. Já
não tenho mais nada a perder, se eu não conseguir pelo menos externar a pessoa eu
sei que sou, ser reconhecido e respeitado da forma que eu me identifico, então
eu não consigo mais nada e game over.
Uma
imagem que me define nesse episódio (sem os textos):
Saber que
meu processo só vai para frente se retirar isso, se o psiquiatra atestar que eu
sou trans e que tem que ter uma psicóloga me acompanhando para prevenir e
tratar algumas coisas, é dureza. Ainda mais quando o médico age como se o seu
problema fosse algo insignificante. É algo estranho no corpo, mas como não está
causando dor (segundo o entendimento dele) pode ficar no corpo pro resto da
vida. Como não é no corpo dele nem de alguém da família dele, então tanto faz. E
ainda colocam em todo lugar: “MEDICINA
POR AMOR”.
Galere,
se vocês puderem, procurem ir acompanhados em cada consulta. Se você sabe que
pode ter uma crise, um surto por qualquer que seja o motivo, vá com alguém e de
preferência com quem pode pelo menos tentar te manter calmo ou distraído. E isso
é tudo e mais que o bastante por hoje.
Se
você sabe quem você é de verdade, não desista.
F5.5
Pessoas, olá de novo. Bem rápido: desde 28/05 que fui atrás de marcar o retorno para a endocrinologista só para informar o que o ginecologista disse, mas até hoje (26/07) não foi marcado. Fiquei na lista de espera igual na marcação do psiquiatra, e só nada.
Tem um link que você pode estar olhando a situação da sua consulta ao invés de ir no posto de saúde não tão próximo da sua casa: SOLICITAÇÃO DE ATENDIMENTO Nesse link ai você só vai atrás se receber um papel de "Solicitação de Regulação", que é a fila de espera que oferecem quando você vai marcar e não tem mais vagas. Prefira não marcar do que ficar nesse agendamento, porque você vai cansar de esperar como eu e uma cacetada de gente cansou. EDIT: De qualquer forma, tem que ser pelo agendamento, meu chapa. É, vc vai esperar bastante sim.
No site vai aparecer assim, e esse aí é o modelo do papel que vc recebe. |
No meu caso, para a endocrinologista ainda está aparecendo só L - Liberada para Agendamento fui no CISLA e o cara que faz a marcação na Ala A disse que quando aparece isso é porque é outra médica que está disponível, não a mesma. Então eu não marquei para outra médica porque a Dra. Ana Carla já está me acompanhando, tem uma ficha no pc dela, e eu teria que explicar tudo do zero para essa nova médica e não tenho paciência para isso. O do psiquiatra está em análise há um bom tempo. Já que o SUS resolveu não colaborar, farei minhas mudanças por minha conta e risco, mas só até resolverem atender. E sim, eu sei que é perigoso e sei que tem muita gente na minha frente para ser atendido, mas tem médicos também.
Quem é ansioso sabe a loucura que é a disforia. Sabe o quão ruim é ver os caras ao seu redor, e sair de perto porque se sente inferior. Não precisa ninguém dizer nada, é uma sensação tão ruim que você pode começar a desacreditar em você, porque sem querer acabamos nos comparando aos caras cisgênero. Atualmente eu parei um pouco com isso porque estou direcionando minha atenção em outras coisas, e ando ocupado demais, então só às vezes a disforia ou ataque de pânico me "pegam" e eu me afasto de todo mundo porque é vergonhoso. Depois eu volto como se nada tivesse acontecido. Sempre.
Não desistam de vocês! Até a próxima!
F5.6
Olá, humanos! Depois de quase desistir de novo, cá estamos. Dessa vez com a consulta ao psiquiatra finalmente realizada.
Bom, depois de esperar tanto (desde Abril) minha consulta foi marcada para o dia 24/10. Foi no CISLA mesmo e foi rápido. Ala D, Dr. Cristóvão. No mesmo esquema das consultas de lá. Entra, pega senha naquela multidão, vai no balcão e fica na porta da sala esperando o Dr. chamar. Minha consulta foi pela manhã, e para terem ideia, às 8:40h já tinha acabado. :)
Sobre a consulta: o médico fez perguntas básicas como o motivo da consulta, como tem se sentido, se usa drogas ou toma bebidas alcoólicas, entre outras coisas, e vai anotando lá. Como eu ainda fico meio nervoso, ansioso e tenho uma droga de crise toda vez que vou no CISLA, mal comecei a falar com o médico e já estava chorando. Expliquei que ando ansioso por quase nada. Na véspera de seminários, pra conhecer alguém e ando fugindo de alguns bate-bocas para evitar esculhambar com a vida da pessoa e etc. Não entrarei em detalhes aqui porque é algo mais intimo... Tenho me isolado de tudo o q eu posso, não durmo direito, não consigo ter horários fixos para nada, perco a atenção com muita facilidade e meu esquecimento ta absurdo.
Tratei dessas e outras coisas urgentes mais pessoais e fui burro porque quase não foquei no objetivo da consulta: a transição, o me entender homem e tudo mais sobre isso. Percebi depois que saí do consultório e fiquei putasso. Queria bater em alguma coisa mas como sabemos, hospital vive cheio de gente e as chances de ser declarado louco seriam mais altas (risos de nervoso). O dr. me atendeu muito bem, foi paciente, disse que estaria mais preocupado se eu não chorasse, e que é bom chorar (mas eu choro demais, é ridículo pra minha cara), me passou uns remédios para crises de estresse e ansiedade e um para dormir. Tenho que pegar no posto aqui perto (não é nem um pouco perto) e hoje é 03/11 e nunca consegui esses remédios porque precisa do cartão do posto e a agente de saúde nunca veio aqui na casa de tarde que é o horário que eu consigo estar em casa. E como eu estou? Ainda ansioso em todo canto, me isolando cada vez mais, fazendo merdas, fingindo felicidade, tentando superar alguns acontecimentos, querendo agredir alguns rsrsrsrsrsrs e querendo me jogar de algum lugar pra testar minhas 7 vidas (pode rir). Ah, e claro, sem dormir. Algumas pessoas quase que me obrigam a sair e eu vou só pra tentar me permitir algo que não seja estudo, pra tentar me distrair mas acabo ficando bad (porém sorrindo) nos rolês também.
Dia 05/11 tenho o segundo exame de ultrassom para poder depois, marcar a cirurgia de retirada dos "dois filhos de Francisco". Não to preparado porque é aquele ultrassom invasivo lá, sabe... e como se não bastasse, é com médicO, um homem, cara. To morrendo aos poucos desde o dia que foi marcado o exame, mas infelizmente preciso me submeter à isso. E é isso aí, até a próxima, colegas. Divulguem o blog e o post também. Ajudem esse alien, please.
F5.7
DIA 05/11: TROCANDO UMA IDEIA E FALANDO SOBRE A BENDITA DA ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL (de novo esse castigo, besho)
Bom, o exame foi feito como na vez anterior, mas foi às 11h e com o médico que fez meu ultrassom das peitxolas. Esse dia foi uma treta daquelas porque eu tinha apresentação de banner na universidade e simplesmente o professor não queria me liberar para ir fazer o exame com o pretexto de que e deveria primeiro cuidar do meu intelecto, da parte importante e só lá nos meus 30, 40 anos cuidar na mudança do físico, sendo que, o minimo de avaliadores que deveria passar pelo meu banner era 3 e já tinha passado. Basicamente eu seria um homem vivendo 30, 40 anos com documentos femininos e corpo feminino como se isso não fosse afetar meu pouco e perturbado juízo. Ele viu como se fosse algo tipo: "hmm vou fazer procedimentos cirúrgicos só porque eu estou à fim e to nem aí pro meu rendimento acadêmico".
Antes de continuar sobre o exame... Talvez eu não tenha explicado sobre a disforia. Segundo o tio Google: "Disforia de gênero caracteriza-se por identificação forte e persistente com o gênero oposto associada a ansiedade, depressão, irritabilidade e muitas vezes a um desejo de viver como um gênero diferente do sexo do nascimento". Se ainda assim não ficou claro, veja um exemplo: eu queria meeeeesmo jogar futsal e basquete na atlética do meu curso, mas não vou porque ainda sou pré-T, não tenho porte e nem resistência física masculina para esses jogos. Aí, assistindo, SÓ ASSISTINDO eu começo a ter crises de ansiedade, falta de ar, tonturas, e me sinto inferior aos caras que estão jogando porque eu queria estar ali, porque eu me vejo como eles, mas eles e a arquibancada numa competição não vêem assim. Então eu me retiro e me isolo porque é o que dá para fazer. No feminino se eu jogar, todo meu esforço eu vou estar jogando fora. Então, não. Vou tentar, assim que resolver algun$ a$$unto$, voltar pro patins, skate, dança contemporânea... Mas tudo devagar porque eu não quero comprometer meu curso na universidade e porque tenho outras coisas para resolver. É isso.
O bendito do exame: fui atendido rápido, não tinha tanta gente, e na minha vez, a auxiliar do médico queria que eu tirasse a calça logo na frente dele. DO NADA. Pedi para ir pra salinha que sempre tem do lado, tirar lá e me enrolar no pedaço de papel grande que é o mesmo que é colocado na caminha lá. Enrolar tipo toalha na cintura, sacas?
Me enrolei e fui pra tal da cama. Cara, de novo aquele negócio ¬¬
O médico perguntou o motivo do exame e eu expliquei que estava refazendo, a pedido do ginecologista (há 6 meses), para poder marcar uma cirurgia de retirada de dois teratomas ovarianos. Falei tudo o que a médica lá tinha me dito, que não tava vendo meus ovários e tals e ele com toda naturalidade do mundo disse "É, ela não conseguiu ver porque tem dois mesmo e estão tomando de conta". Eu repeti a reação acima porque a naturalidade da noticia foi tanta que eu quase esperei ouvir ele dizer "beleza, tudo nos conformes".
reação: |
E esse exame demorou viu... Quando peguei os resultados, 15 dias depois, comparei e vi que os "dois filhos de Francisco", quase dobraram de tamanho. DAORA, NÉ? (nervoso). Ele perguntou se eu já tinha marcado a cirurgia e eu disse que ia marcar depois desse exame. Daí ele disse que se não tivesse já sido recomendado, ele ia me dar a requisição pra marcar porque (nas palavras dele) "tem que tirar mesmo e logo" (aí eu lembro que dependo do SUS, mas ok).
Antes de sair do consultório, perguntei se ele poderia me adiantar algo logo porque 15 dias pra receber um resultado é massante. Ele 'fez a egípcia' e soltou um "pronto, moça". Esse dia foi uma merda, meu chapa, mas uma merda com o banner apresentado e com nota 8,0 pelo menos.
se fazer de doido e surdo, basicamente |
Vou parar por aqui porque é muita coisa para atualizar e tenho outros abacaxis para descascar. Próxima atualização é sobre a psicóloga, no dia 09/11. Relaxem e não esqueçam: NÃO DESISTAM. Até a próxima, chegados! Ah, perdoem os erros, eu to meio com a vida corrida, final de semestre, etc.
F5.8 - THE END
Oiê ✌
Sei que deixei o blog parado por um tempo, mas vou
justificar. Bom, depois do último exame, meu processo ficou parado. Nada de
médico, nada de remarcação, consulta, nada nada. Eu desisti deles e tomei a
decisão que a maioria de nós, transgêneros tomamos: começar o que for preciso
por conta própria. É errado, arriscado, e até irresponsável, mas é meio que uma
decisão desesperada porque você passa tanto tempo atrás de médicos e não muda
nada. No meu caso, a única coisa que eu consegui nesse tempo todo foi saber que
tenho 2 cistos e tem que remover. Apenas. Meu psicológico continuou “fodido”, continuo
com a cara feminina de sempre, entre outras coisas.
Maaaaaas, dia 29 de janeiro de 2020, foi inaugurado o
Ambulatório Trans, no HGV, e já está funcionando alguns atendimentos. NESTE LINK tem a noticia completa sobre o lugar e seu funcionamento. Eu não vou atrás
agora porque estou um pouco cansado de tanto médico, de tanto passar de um
psicólogo pra outro, de repetir a mesma história, e ter que descascar minha vida
pessoal pra quem eu nem conheço (médicos). Preciso de um tempo... Mas vou
procurar sim, o acompanhamento no Ambulatório Trans daqui a alguns meses, ou
seja, o processo que eu estava fazendo pelo CISLA não será continuado. Vou encerrar
aqui essa novela no CISLA e quando começar pelo Ambulatório, faço outro post. Quando
começar as primeiras aplicações de T também vou escrever, mas separadamente,
lógico. Vou escrever sobre essa parte porque eu vejo muita coisa genérica na
net sobre a transição, sem muita informação com detalhes. Espero que seja útil,
se não for, se flopar, nunca existiu.
Gostaria de deixar claro desde já que, NÃO ESTOU INCENTIVANDO NINGUÉM A FAZER A TRANSIÇÃO POR CONTA PRÓPRIA,
vou relatar a minha mudança no blog primeiro porque eu quero, e segundo que
toda informação é útil e cada um toma a decisão que bem lhe couber. Amém,
igreja?
Adiantando umas coisas desde já: eu estou bem ciente do que
eu vou ter que abrir mão nos próximos meses quando começar a T, isso inclui
minha mãe e provavelmente metade da família. Mas para quem está beirando os 30
anos, ou eu faço algo agora, ou eu não faço nunca, porque eu não vou ter tanto
ânimo e disposição para enfrentar o mundo só aos 40, 50 anos. E como diz uma
pessoa que adoro muito (e que já não me suporta mais) “ a gente vive o hoje,
amanhã é outro dia”. Então eu vou cuidar no meu abacaxi de hoje e o abacaxi
familiar eu deixo para descascar quando chegar a hora, quando não tiver mesmo pra
onde fugir mais. Então, como tarefa de casa para vocês que pensam em fazer a
transição por conta e também tem uma família contra você: pense realmente se
está preparado para abrir mão de algumas coisas/ pessoas na vida. Todo bônus tem
seu ônus; toda vitória exige um sacrifício. A vida não é fácil. Choices e até
mais.
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